segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A CASA CHEIA


         Tudo bem que era apenas uma cadeira, mas era minha cadeira. Era assim, mas já nem lembro mais onde eu sentava. Por vários dias nossa casa está pareceu um abrigo. Parentes chegando e partindo a todo momento. Tias visitando, primos de férias, avós fazendo exames, enfim, um pequeno hotel onde todos os hóspedes se conhecem. Pegam minha xícara, sentam no meu lugar, deitam na minha cama e eu ainda tenho que gostar disso! No início até foi divertido. A mesa sempre cheia (aliás, a casa toda sempre cheia), mas depois começou a incomodar. Como algumas famílias grandes conseguem viver juntas? Você já pensou em morar sozinho? Eu também. Acho que todos já pensamos nisso ao menos uma vez. Todos, exceto um.
         Jesus morava bem, mas nunca quis morar sozinho. Dividia a casa com o Pai e o Espírito Santo. Anjos eram seus mordomos, mas Ele queria mais. O Senhor queria encher a casa de gente. “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar” Jo 14:2,3. Não com quaisquer tipo de pessoa. Na verdade, apenas com os piores homens e mulheres que já passaram por aqui. Pessoas incrédulas e enganadoras, homicidas, gananciosos e covardes. Ladrões e pessoas capazes até de negarem a própria fé. E não foi difícil para Jesus achar pessoas desse tipo. Ele achou Tomé com sua incredulidade e Jacó com suas trapaças. Jesus buscou Davi, o homicida e adúltero. Chamou Judas que era traidor, e Pedro que o negou três vezes na mesma noite. João um dia quis orar a Deus pedindo fogo do céu para consumir (matar) todos os habitantes de uma cidade (e esse era o Apóstolo do “amor”). Até na cruz Jesus convidou um ladrão para morar com Ele. O Senhor chamou os pecadores ao arrependimento. Ele nunca procurou os justos, até porque “não há um justo, nem um sequer.” Rm 3:10. Mas se você acha isso um absurdo, o mais incrível vem agora. Acredita que Jesus teve coragem de nos convidar para morar também no céu. E Ele disse que assim que estiver tudo arrumado vem nos buscar “E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo...”Jo 14:3.
       Você entendeu? Pedro o negou, mas não foi negado. Judas o traiu, mas foi chamado de amigo até o fim. Tomé nunca creu, mas Jesus nunca duvidou dele. Podemos correr, mas nunca fugiremos do amor de Cristo. Nós não arrumamos nada. Jesus foi arrumar lugar. Não vamos para o céu pelo que nós fizemos, mas sim pelo que Ele fez. Nossos sacrifícios são vazios e nossos esforços são inúteis. Na cruz Jesus não disse: “Pai, o Jean vai terminar depois”, ou “Pai, está quase tudo pronto”. Mas suas palavras foram “Pai, está consumado” Jo 19:30. O preço era muito alto, mas Ele pagou. Por quê? “...para que onde Eu estiver, estejais vós também.” Jo 14:3c. (Grifo nosso). Você não gosta que sentem no teu lugar? Não se preocupe, se você vencer, e pode vencer, vai sentar com Jesus no trono dele. AP 3:21. O que nós podemos fazer para ajudar? Podemos aceitar o que Ele fez sozinho e dar a Ele nossos pecados. Ainda bem que Jesus gosta da casa cheia.

domingo, 4 de novembro de 2012

UM NOVO DIA PRA NÓS


            Este  mês faz quatro anos que nossas vidas foram marcadas para sempre. Em novembro de 2008, as águas levaram nossas casas, nossos entes queridos, e por que não dizer, muitos de nossos sonhos também. Com tudo que aconteceu eu me pergunto se algum dia isso vai mudar. Como eu gostaria que fosse feito tudo novo. Mas quem poderia fazer novas todas as coisas? Estamos envelhecendo e as coisas também estão ficando velhas. A casa onde vivi quando criança foi demolida, a maternidade onde nasci foi desativada, meus pais não são mais jovens, os amigos de infância casaram e têm filhos, um de meus irmãos morreu de câncer em novembro daquele ano. Sei o que é dor. Sei o que é sentir saudades de alguém querido. E sei que o tempo não cura nada.
            Gostaria de fazer tudo ser como antes, fazer tudo ficar novo, mas não posso. Nós não podemos, mas tem alguém que pode e, além disso, já prometeu que vai. Deus vai fazer novas TODAS as coisas. “Eis que faço novas todas as coisas” AP 21:5. Novo céu, nova Terra, tudo novo. Um mundo sem pranto e nem funerais Sem sepulturas, e sem nomes gravados em mármore, sem pás de terra sobre caixões daqueles que amamos. Um mundo onde não se diz adeus, onde os morros não desabam e nem as pessoas nos deixam. As coisas passageiras serão trocadas pelas eternas, Ele vai acabar com a dor, a saudade, a tristeza e com nossas lágrimas. “Deus enxugará de nossos olhos toda lágrima e não haverá mais morte, nem dor nem pranto, pois as primeiras coisas são passadas.” AP 21:4.
            Você ainda lembra como era a Rua XV em Blumenau antes das mudanças nas ruas e calçadas? Não lembra? Nem eu, porque quando o novo é muito melhor, esquecemos do que era velho mais rapidamente. Jesus falou da dor da mulher ao dar a luz. Ela pensa que vai morrer, mas esquece dessa dor ao ter a criança nos braços. Deus estava pensando nisso quando prometeu tudo novo para nós. Ele sabia das lágrimas, da dor, da saudade e sabia como teríamos aflições nesse mundo. Mas o que virá é tão bom que “os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e nem desceu ao coração do homem”. Onde está?
            Aquele que só teve coragem de expulsar Adão do Éden por que já sabia como o levar novamente para lá, e preferiu ser humilhado e morto por nós do que reinar no céu sem a gente. Que trocou toda a adoração angelical pelos nossos pecados e parou de reger o Universo para ouvir nossa voz. Aquele que formou o homem e foi pregado na cruz, um dia enxugará nossas lágrimas. O que chamam de fim, para os cristãos é apenas o começo. Para onde vamos não se diz adeus. Dizemos que o melhor de Deus ainda está por vir. Na verdade o melhor de Deus já veio e está para voltar. Jesus dirá: Vinde benditos de me Pai... E é ai que tudo vai começar.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

QUANDO FAZEMOS GREVE NA FÉ


Chega setembro e começa a campanha salarial. Dos correios, dos bancários, dos motoristas, e de qualquer um que não concorde com seu salário. Antes da greve existe um período de negociações, mas quando estas falham, surgem os cartazes: Estamos em greve. 
Fazemos greve para reivindicar direitos, melhorar as condições de trabalho, aumentar o salário ou apenas para matar tempo e tomar chimarrão no meio da rua. A verdade é que, de uma forma ou de outra, todo bom grevista quer negociar algo com o patrão. Fato curioso é que ninguém faz greve antes de conseguir o emprego. Um funcionário público, por exemplo, sabe quanto vai ganhar antes de fazer o concurso, pois o salário vem expresso no edital. Depois passa na prova, entra na empresa e... Faz greve. Greve? Isso mesmo. G-R-E-V-E.
Entendo a greve dos correios. Aceito a greve dos motoristas, e até já participei da greve dos bancários, mas não entendo como tanta gente está em greve para com Deus.
        _ É o seguinte, Senhor, eu te amei, mas ainda sou empregado.
Eu oro quase todo dia, isto é, quando lembro, mas continuo andando de ônibus.
Eu “pago” o dízimo quase todo mês, mas não saio do aluguel. Até vou ao culto, mas não consigo converter essas bênçãos em dinheiro, namoradas, carros, estatus, amigos, imóveis, etc. Dei dez pra igreja, e onde estão os meus cem? Assim não dá! Quero um aumento! Vamos negociar as condições da minha fé. Ir ao culto apenas para adorar a Jesus? Orar apenas pelo prazer de falar com Deus? Não ganho nada com isso.
          Ei, o amor de Deus não pode estar nas coisas que Ele dá, mas em quem Ele deu por nós. Jesus, mesmo sendo o criador, aceitou um emprego cujo salário era a morte (Rm 6.23). Ele foi até o fim. Nunca discutiu as condições da nossa salvação. Jesus não exigiu um mínimo de salvos para morrer na cruz. Nunca pediu nosso dinheiro para sermos salvos. Jamais exigiu nada de nós. Pedro disse: “Senhor, e nós que deixamos tudo... o que receberemos?” Jesus prometeu cem vezes mais aqui e, por fim, a vida eterna. Nós desejamos muito “cem vezes mais” e esquecemos a outra parte. Creio que um dia, talvez demore, mas ainda chegará o dia em que a Igreja voltará a desejar mais a vida eterna do que “cem vezes mais nesta vida”. Para Deus, eu e você somos o único tesouro pelo qual vale à pena pagar um preço. Ainda bem que Jesus não entrou em greve no dia em que Ele resolveu nos salvar.    

domingo, 7 de outubro de 2012

A ESTANTE


            O que você faria com um monte de caixas de madeira, daquelas usadas pra transportar verdura? Bem, aqui em casa nós fizemos uma linda estante. Mas tenho que admitir que essa ideia de pegar uma coisa velha, suja e descartável, e usá-la para fazer algo novo, criativo e útil, não é minha. Copiei isso de um amigo que é carpinteiro. Ele me ensinou algumas coisas. Fico impressionado com as coisas que Ele já fez com madeira.
            Certa vez usou um coxo de colocar trato para o gado como um berçário. Mais pra frente fez de um pequeno barquinho um púlpito.
            Certa vez, há muito tempo atrás, esse carpinteiro viu Adão e Eva caídos e fez deles alvos da promessa de um redentor. Fez de Abraão, um velho sem filhos e que mentiu por medo, pai de nações e nosso maior exemplo de fé. O harpista e rei, mas também adúltero, homicida, e desobediente Davi, foi transformado num homem segundo o coração de Deus. Nosso amigo Pedro, parou de pescar peixes e começou a pescar homens. E Saulo, o pior inimigo da igreja, se tornou o maior missionário que o mundo já conheceu.
            O Senhor é bom com restaurações, ele pega o que não tem mais jeito e torna numa obra de valor inestimável.
            Quer conhecer a maior obra de Deus? Então olhe num espelho. Onde você vê um rostinho cheio de cravos ou rugas, com cabelo sem chapinha, ou mesmo sem cabelo, com 10 ou mesmo 100 anos. Não importa como nos vemos, somos apenas a melhor e mais complexa ideia de Deus.
            Com dois pedaços de madeira o Império Romano fez uma cruz. Jesus fez, de uma cruz, um instrumento de salvação, uma ponte entre a humanidade e Deus. Aquilo que nas mãos dos homens servia pra matar, nosso Cristo usou pra dar vida pra toda a humanidade. A mesma coisa que o diabo quer usar pra te destruir, Jesus pode usar pra mudar a tua vida.
            Sim, as caixas me deram trabalho, mas o bom é isso, ver a transformação, conforme eu lixava, limpava e arrumava, transformava caixas velhas num móvel de destaque.
            Eu sei que é difícil mudar nosso jeito. Somos teimosos, arrogantes, mentirosos, egoístas, avarentos, egocêntricos e colecionamos mais defeitos do que podemos catalogar, mas Ele é carpinteiro e gosta de desafios. Somos a peça mais estragada e difícil de arrumar que Cristo já pegou, mesmo assim somos àquela na qual Ele não cansa de trabalhar. Então, da próxima vez que Jesus tirar algo, lixar, ou colocar coisas na tua vida, apena veja o trabalhar do carpinteiro que fez o Universo, fez nossas vidas, e agora faz de nós peças de valor na Sua casa. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

RÁPIDO DEMAIS

          Chovia muito naquela hora e a serra tinha curvas perigosas, mesmo assim ele acelerava. E numa curva, o carro escorregou, nessa hora ele viu que estava muito rápido. Ao lado de um precipício, sem controle da direção. Talvez fosse tarde demais, talvez não. O que aconteceu depois? Bem, antes vamos conversar um pouco.
          Eu era o motorista e admito que estava muito rápido. Não vi quando devia ir mais devagar e você tem razão ao brigar comigo. Fui imprudente? Sim. Eu sei que você dirige seu carro com calma e nunca cometeu um erro. Mas talvez você conheça alguém que respeita as leis de trânsito, mas não as divinas. As pessoas reduzem na estrada, mas nunca nas palavras. Cuidam do carro, mas não da saúde. Obedecem a sinalização, mas não a Palavra de Deus. Somos assim. Corremos de Deus e escorregamos no orgulho. Dirigimos nossas vidas e atolamos em pecados. Estamos em dia com o IPVA, mas em débito com o Senhor. Não queremos ajuda divina. Tenho um amigo que não viaja de carona porque fica enjoado. Ele precisa dirigir sempre. Quantas vezes Jesus pediu para guiar um pouco, mas nós não aceitamos. Ele sabe que estamos cansados e já se ofereceu para dirigir. Vidas corridas. Tanto dinheiro para ganhar e tão pouco tempo para viver. Agendas cheias e corações vazios.
          Deus criou tudo em seis dias. Queremos fazer o mesmo em um. Basta a cada dia o seu mal. Casamentos são destruídos por adultérios, desconfiança e dívidas. Pessoas mais apegadas a coisas que a ferrugem destrói do que às eternas. Sem arranhões no carro, mas marcas profundas em corações feridos. Reconhecemos o apito do guarda, porém desconhecemos a voz de Cristo. Marta corria de um lado para o outro, ela tinha prazos, metas e produção, já Maria soube a hora de parar para ouvir o mestre, ela tinha Jesus, e essa é a melhor parte, aquela que nunca lhe foi tirada. Famílias não reduzem o ritmo até perder os filhos para as drogas, para a prostituição e para o mundo.
          Conheci um homem que viajava com a família, quando um carro perdeu o controle numa curva e acertou sua moto. Ele quebrou um braço e perdeu a esposa, tudo isso porque alguém estava muito rápido. Quando corremos muito acabamos machucando os outros. Isso mesmo, nossas vidas corridas acabam machucando quem está a nossa volta.
          Homens de Deus andam ocupados com tantas coisas que não conseguem mais descansar em Cristo. Ganhamos o mundo, mas estamos perdendo nossas almas. Dois discípulos iam com pressa para Emaús. Se soubessem quem ia com eles, teriam ido mais devagar. Só viram que era Jesus depois dele ter ido.
Pare, ao menos por um momento, pare de correr. Veja quem está ao seu lado nesse momento. Ele dirigiu Israel no deserto. Foi com profetas e reis, sacerdotes e servos. Jesus guiou a Igreja por dois mil anos e agora pede para dirigir a sua vida.
          E, sabe de uma coisa, no final de tudo, não fará diferença quem você foi, aonde chegou ou o que fez. A única coisa que realmente importará é se Ele foi com você. Na serra, quando o carro escorregou, eu apenas fiz o que tinha que ser feito, fiz a curva com calma e deu tudo certo. Se você pensa que sua vida já era, lembre que a viagem ainda não acabou. Pra tudo há um tempo, e chegou a hora de parar, entregar a direção pra Deus e descansar. Você merece.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A PADARIA DA VIDA


Você sabia que quando o pão francês está na forma, crescendo até chegar no ponto ideal para ir ao forno, não pode ter nenhum vento, porque isso cria uma casca seca em cima dele e impede seu crescimento. Assim, esse pão não pode mais ser assado, ou, se for, será um pãozinho de baixa qualidade.
Numa noite, enquanto eu cuidava da padaria, deixei uma porta aberta e uma fornada inteira de pão criou essa casca. Eram 50 pãezinhos, perdidos, 50 pequenas obras de arte desperdiçadas por causa de um erro, de uma corrente de ar na hora errada. Eu pensei que eles seriam descartados, mas quando o padeiro de verdade chegou, me ensinou um segredo:    Nessa hora, mais vento, fogo, frio nem barulho, não servem pra nada. O único jeito de salvar os pães é borrifar um pouco de água sobre eles. Isso mesmo, uma leve nuvem úmida amolece a mais seca das massas.
Quantas vezes deixamos alguma porta aberta e nosso coração, assim como aqueles pães, fica seco. A diferença é sutil, mas suficiente para estragar tudo. Bate o vento frio da apatia no casamento, e o coração fica seco. O amor não foi embora, apenas está preso por uma casca de ciúme, uma camada de indiferença. Uma fina massa dura, capaz de estragar qualquer relacionamento. Não adianta buscar o fogo, nessa hora o coração precisa de uma leve camada de água, forte ao ponto de amolecer essa casca, mas delicada o suficiente para não estragar a massa.
Vidas machucadas, cansadas de buscar meios de amolecer corações feridos por mágoas antigas, traumas do passado que impediram o crescimento de relacionamentos saudáveis. De longe parece tudo normal, mas Deus (e nós) sabemos quando algo está errado. Na madrugada da vida, quando estamos sozinhos, podemos esquecer alguma porta aberta e o vento da depressão, da insegurança, ou do desespero endurecem nosso coração. Desanimado? Eu sei, tanto esforço até aqui e agora isso...

Pare as máquinas por um momento, desligue todos os fornos e aprenda com o Deus. Veja como Ele pega um pouco da água do Espírito, observe atento enquanto essa casca, lentamente desaparece. Você pensou que era hora de descartar a massa, jogar tudo no lixo, mas não precisa, porque Deus vai restaurar o que estava perdido. Apenas cuide para que ventos estranhos não entrem novamente. Deixe o resto com quem entende. Agora vou na padaria, o pão francês está quase pronto. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A CAMINHO DE CASA


Certa noite passei por alguém caído à beira da estrada. Fui verificar e vi que era um homem, de meia idade e que estava vivo. Bastante bêbado, mas vivo. Perguntei se poderia ajudá-lo, então abracei e o levantei. Ofereci-me para levá-lo para casa e ele me disse que lembrava do caminho, mas não conseguia chegar lá sozinho. Então caminhei com ele até a sua casa. Aquele homem não nasceu para viver naquele buraco, mas se eu não o ajudasse ele teria ficado lá por algum tempo. Sozinho, caído à beira da estrada, confuso; sabendo o caminho de casa, mas sem forças de levantar, precisando de uma ajuda que não vinha. Essa história não é familiar para você?
Pense um pouco: Eu disse sozinho e caído. Não sentado em casa, com amigos, mas abraçado com a solidão e num buraco longe do lar.
Não era a nossa situação? “Ai do que estiver sozinho; pois caindo, não haverá outro que o levante” (Ec 4:10b). Nós estávamos assim como esse bêbado, mas num dia (ou noite) qualquer, alguém chamado Jesus nos viu sozinhos e caídos. Ele saiu do seu lar e chegou até nós “E o verbo (Jesus) se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14a). Eu mudei o direção para socorrer aquele homem. Jesus fez mais que isso, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fp 2:6,7). Eu não deixei aquele homem ficar prostrado. Jesus também não nos deixou assim “Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão” (Sl 37:24). Ele nos ofereceu ajuda, nos tirou de um charco de lodo e firmou nossos pés sobre uma rocha. Depois se ofereceu para nos levar ao lar. Ele sabe como chegar lá, já levou muitos e hoje está nos levando também. Nada de buracos, nem frio, chega ficar caído.
Eu levei aquele homem para sua casa e depois voltei para minha. Jesus não, ao invés de voltar para sua casa e esquecer de nós (nunca mais vi aquele homem), Ele nos adotou, e prometeu nos levar para a casa de Seu Pai “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, credes também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:1-3). O que chamam de fim, para nós é apenas o começo.
Para onde vamos não se diz adeus. Dizemos que o melhor de Deus ainda está por vir. Na verdade o melhor de Deus já veio e está para voltar. Jesus dirá: Vinde benditos de meu Pai... E é ai que tudo vai começar, pois antes mesmo de criar o Universo, Ele já planejava e sonhava com o dia em que nos levaria ao lar.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O ABRIGO DO CÉU

       Era uma manhã chuvosa de domingo e o pequeno Jean (sim, eu já fui pequeno) foi convidado a entrar numa aventura. Por mais que eu argumentasse com o Fábio de que era melhor ficar em casa jogando vídeo game, me convenceu a ir com ele e meu irmão conhecer o Pico da Bandeira, em Rio do Sul. Isso significava uma longa caminhada pelo meio da mata fechada, numa longa jornada. E, debaixo de chuva, lá fomos nós subir aquela montanha. 
       Quando chegamos ao topo, uma surpresa desagradável: encontramos um grupo de jovens bêbados e drogados, todos com enormes facas e armas de caça. Nós, num ato de coragem, ficamos lá por uns 2 minutos (ou menos) e saímos. Porém, assim que adentramos na trilha, percebemos que aquele grupo logo viria atrás de nós. Enquanto o receio dava lugar ao medo e o desespero já esperava a sua vez de chegar, nós três vimos uma pequena gruta, uns oito metros acima da trilha. Subimos até ela e ficamos lá, esperando, tremendo e orando, enquanto quase 15 pessoas bêbadas e armadas passavam logo abaixo, gritando para que esperássemos por eles. Nunca vou saber se estávamos mesmo em perigo, mas para um aventureiro de nove anos, aquilo foi assustador. O fato é que encontramos um abrigo numa hora de muito medo. 
       Eu cresci (e bastante), mas ainda preciso de um refúgio, uma saliência firme o bastante para me guardar. Meus medos são diferentes, mas eles existem. E acho que não sou o único. Quem já não esteve com medo, quando a morte passou bem perto e chamou por alguém que você ama, ou na hora em que uma doença chama por nós. Problemas financeiros ou profissionais (quem manda nos metermos nessas encrencas). Para uns, o medo não é do bêbado, mas sim da bebida, que já causou agressões, brigas, lágrimas e dor. 
       Você precisa sair da trilha por um momento, se abrigar nessa fenda da rocha. Ela é só o que você tem? Não, ela é tudo que você precisa. Pode parecer pouco, mas esse esconderijo foi aberto com uma cruz. Não no Pico da Bandeira, mas sim no monte Caveira. Lá Jesus construiu um abrigo seguro para todos nós. Sei o que é ver as coisas mais assustadoras passarem bem pertinho de nós. Acredite, você não é o único nessa caminhada. O rei Davi passou muito tempo nesses abrigos rochosos e a maioria dos salmos nasceu lá. “Elevo os meus olhos para os montes...”. Ló se abrigou numa caverna com as filhas e Elias, numa delas pediu a morte e encontrou Deus. A cruz de Jesus abriu essa saliência que nos permite descansar enquanto o perigo e o medo passam de mãos dadas bem abaixo de nós. 
       A morte alcançou a tua casa, a droga foi mais forte que a tua fé, ou aquele acidente veio rápido e não deu tempo pra se proteger? Use essa gruta para chorar, mas não esqueça de que, mesmo agora, você não está sozinho. Lembre-se que até Jesus conheceu a morte e, depois da cruz, foi numa pequena gruta que Ele a venceu. “Hoje vocês podem chorar e se lamentar, mas essa tristeza ainda se converterá em alegria” (Jo. 16:20). Agora, cada vez que vou ao Pico da Bandeira, eu paro um momento para observar aquela gruta. Eu venci e ela continua lá, firme e acolhedora, para todos que ainda sentirem medo e precisarem de abrigo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O VIOLINO


        Mais de meia hora para afinar um violino. Era a primeira vez que eu fazia isso, e, quando uma corda estava afinada, outra desafinava. Dizem que é assim mesmo, no começo o violino demora a “pegar” afinação. Quando estava quase cumprindo minha tarefa, a corda MI (mais fina e aguda) arrebentou (e todas as demais desafinaram imediatamente). Desesperado, liguei para uma amiga que me explicou do trabalho que um violino dá quando é novo. Violinos são tão lindos quanto complicados. Tão pequenos e difíceis de lidar. Cada corda é uma dor de cabeça, pelo menos no começo.
     Dizem que Paganini, um dos grandes violinistas da história, tocava seu violino num concerto quando uma das cordas arrebentou. A orquestra parou, o maestro parou e toda plateia parou, mas o violinista não. Mesmo sem uma corda ele continuou tocando. Mas a frente, outra corda se partiu. Com muita destreza Paganini continuou tocando, para espanto e admiração de todos. Por fim arrebentou uma terceira corda e o violino ficou com apenas uma. De forma genial, o grande músico conseguiu, mesmo com um instrumento destruído, executar a música até o fim.
Não, não vou me comparar com Paganini, acho que me pareço mais com seu violino, um instrumento estragado nas mãos de um grande músico. Talvez você também seja como eu. Alguém com mais defeitos do que fé. Que dá mais trabalho do que alegrias para Deus. Mais parecido com um violino sem cordas do que com um músico habilidoso. Deus já mexeu nas cordas desse instrumento um milhão de vezes e nada. Quando a corda do casamento está no ponto, a corda das finanças arrebenta. Quando o Senhor afina a saúde, a fé fica abaixo do tom. Nada pior do que um cristão com o ego sustenido e o amor bemol. A vida não é mais complicada do que uma partitura de primeiro violino e, se eu afinei o meu, Deus pode nos afinar também.
Os mais raros violinos precisam de afinação, assim como os grandes nomes da Bíblia precisaram de ajuda. Quem disse que conosco será diferente? Dói quando o Músico aperta a corda? Quando busca a afinação? É só porque um dia você foi escolhido por ele como um instrumento de valor. Tão raro que ele continua afinado e não aceita trocar por outro. Hoje a música que produzimos pode ser com notas tristes, das dores e tristezas, das frustrações e mágoas que a vida (e algumas pessoas) nos trouxe. Logo logo a música será outra, e vai começar com o som de uma trombeta. Que tal estarmos afinados antes disso? Agora preciso ir, tenho que afinar meu violino.