Era uma manhã chuvosa de domingo e o pequeno Jean (sim, eu já fui pequeno) foi convidado a entrar numa aventura. Por mais que eu argumentasse com o Fábio de que era melhor ficar em casa jogando vídeo game, me convenceu a ir com ele e meu irmão conhecer o Pico da Bandeira, em Rio do Sul. Isso significava uma longa caminhada pelo meio da mata fechada, numa longa jornada. E, debaixo de chuva, lá fomos nós subir aquela montanha.
Quando chegamos ao topo, uma surpresa desagradável: encontramos um grupo de jovens bêbados e drogados, todos com enormes facas e armas de caça. Nós, num ato de coragem, ficamos lá por uns 2 minutos (ou menos) e saímos. Porém, assim que adentramos na trilha, percebemos que aquele grupo logo viria atrás de nós. Enquanto o receio dava lugar ao medo e o desespero já esperava a sua vez de chegar, nós três vimos uma pequena gruta, uns oito metros acima da trilha. Subimos até ela e ficamos lá, esperando, tremendo e orando, enquanto quase 15 pessoas bêbadas e armadas passavam logo abaixo, gritando para que esperássemos por eles. Nunca vou saber se estávamos mesmo em perigo, mas para um aventureiro de nove anos, aquilo foi assustador. O fato é que encontramos um abrigo numa hora de muito medo.
Eu cresci (e bastante), mas ainda preciso de um refúgio, uma saliência firme o bastante para me guardar. Meus medos são diferentes, mas eles existem. E acho que não sou o único. Quem já não esteve com medo, quando a morte passou bem perto e chamou por alguém que você ama, ou na hora em que uma doença chama por nós. Problemas financeiros ou profissionais (quem manda nos metermos nessas encrencas). Para uns, o medo não é do bêbado, mas sim da bebida, que já causou agressões, brigas, lágrimas e dor.
Você precisa sair da trilha por um momento, se abrigar nessa fenda da rocha. Ela é só o que você tem? Não, ela é tudo que você precisa. Pode parecer pouco, mas esse esconderijo foi aberto com uma cruz. Não no Pico da Bandeira, mas sim no monte Caveira. Lá Jesus construiu um abrigo seguro para todos nós. Sei o que é ver as coisas mais assustadoras passarem bem pertinho de nós. Acredite, você não é o único nessa caminhada. O rei Davi passou muito tempo nesses abrigos rochosos e a maioria dos salmos nasceu lá. “Elevo os meus olhos para os montes...”. Ló se abrigou numa caverna com as filhas e Elias, numa delas pediu a morte e encontrou Deus. A cruz de Jesus abriu essa saliência que nos permite descansar enquanto o perigo e o medo passam de mãos dadas bem abaixo de nós.
A morte alcançou a tua casa, a droga foi mais forte que a tua fé, ou aquele acidente veio rápido e não deu tempo pra se proteger? Use essa gruta para chorar, mas não esqueça de que, mesmo agora, você não está sozinho. Lembre-se que até Jesus conheceu a morte e, depois da cruz, foi numa pequena gruta que Ele a venceu. “Hoje vocês podem chorar e se lamentar, mas essa tristeza ainda se converterá em alegria” (Jo. 16:20). Agora, cada vez que vou ao Pico da Bandeira, eu paro um momento para observar aquela gruta. Eu venci e ela continua lá, firme e acolhedora, para todos que ainda sentirem medo e precisarem de abrigo.