sexta-feira, 27 de julho de 2012

O ABRIGO DO CÉU

       Era uma manhã chuvosa de domingo e o pequeno Jean (sim, eu já fui pequeno) foi convidado a entrar numa aventura. Por mais que eu argumentasse com o Fábio de que era melhor ficar em casa jogando vídeo game, me convenceu a ir com ele e meu irmão conhecer o Pico da Bandeira, em Rio do Sul. Isso significava uma longa caminhada pelo meio da mata fechada, numa longa jornada. E, debaixo de chuva, lá fomos nós subir aquela montanha. 
       Quando chegamos ao topo, uma surpresa desagradável: encontramos um grupo de jovens bêbados e drogados, todos com enormes facas e armas de caça. Nós, num ato de coragem, ficamos lá por uns 2 minutos (ou menos) e saímos. Porém, assim que adentramos na trilha, percebemos que aquele grupo logo viria atrás de nós. Enquanto o receio dava lugar ao medo e o desespero já esperava a sua vez de chegar, nós três vimos uma pequena gruta, uns oito metros acima da trilha. Subimos até ela e ficamos lá, esperando, tremendo e orando, enquanto quase 15 pessoas bêbadas e armadas passavam logo abaixo, gritando para que esperássemos por eles. Nunca vou saber se estávamos mesmo em perigo, mas para um aventureiro de nove anos, aquilo foi assustador. O fato é que encontramos um abrigo numa hora de muito medo. 
       Eu cresci (e bastante), mas ainda preciso de um refúgio, uma saliência firme o bastante para me guardar. Meus medos são diferentes, mas eles existem. E acho que não sou o único. Quem já não esteve com medo, quando a morte passou bem perto e chamou por alguém que você ama, ou na hora em que uma doença chama por nós. Problemas financeiros ou profissionais (quem manda nos metermos nessas encrencas). Para uns, o medo não é do bêbado, mas sim da bebida, que já causou agressões, brigas, lágrimas e dor. 
       Você precisa sair da trilha por um momento, se abrigar nessa fenda da rocha. Ela é só o que você tem? Não, ela é tudo que você precisa. Pode parecer pouco, mas esse esconderijo foi aberto com uma cruz. Não no Pico da Bandeira, mas sim no monte Caveira. Lá Jesus construiu um abrigo seguro para todos nós. Sei o que é ver as coisas mais assustadoras passarem bem pertinho de nós. Acredite, você não é o único nessa caminhada. O rei Davi passou muito tempo nesses abrigos rochosos e a maioria dos salmos nasceu lá. “Elevo os meus olhos para os montes...”. Ló se abrigou numa caverna com as filhas e Elias, numa delas pediu a morte e encontrou Deus. A cruz de Jesus abriu essa saliência que nos permite descansar enquanto o perigo e o medo passam de mãos dadas bem abaixo de nós. 
       A morte alcançou a tua casa, a droga foi mais forte que a tua fé, ou aquele acidente veio rápido e não deu tempo pra se proteger? Use essa gruta para chorar, mas não esqueça de que, mesmo agora, você não está sozinho. Lembre-se que até Jesus conheceu a morte e, depois da cruz, foi numa pequena gruta que Ele a venceu. “Hoje vocês podem chorar e se lamentar, mas essa tristeza ainda se converterá em alegria” (Jo. 16:20). Agora, cada vez que vou ao Pico da Bandeira, eu paro um momento para observar aquela gruta. Eu venci e ela continua lá, firme e acolhedora, para todos que ainda sentirem medo e precisarem de abrigo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O VIOLINO


        Mais de meia hora para afinar um violino. Era a primeira vez que eu fazia isso, e, quando uma corda estava afinada, outra desafinava. Dizem que é assim mesmo, no começo o violino demora a “pegar” afinação. Quando estava quase cumprindo minha tarefa, a corda MI (mais fina e aguda) arrebentou (e todas as demais desafinaram imediatamente). Desesperado, liguei para uma amiga que me explicou do trabalho que um violino dá quando é novo. Violinos são tão lindos quanto complicados. Tão pequenos e difíceis de lidar. Cada corda é uma dor de cabeça, pelo menos no começo.
     Dizem que Paganini, um dos grandes violinistas da história, tocava seu violino num concerto quando uma das cordas arrebentou. A orquestra parou, o maestro parou e toda plateia parou, mas o violinista não. Mesmo sem uma corda ele continuou tocando. Mas a frente, outra corda se partiu. Com muita destreza Paganini continuou tocando, para espanto e admiração de todos. Por fim arrebentou uma terceira corda e o violino ficou com apenas uma. De forma genial, o grande músico conseguiu, mesmo com um instrumento destruído, executar a música até o fim.
Não, não vou me comparar com Paganini, acho que me pareço mais com seu violino, um instrumento estragado nas mãos de um grande músico. Talvez você também seja como eu. Alguém com mais defeitos do que fé. Que dá mais trabalho do que alegrias para Deus. Mais parecido com um violino sem cordas do que com um músico habilidoso. Deus já mexeu nas cordas desse instrumento um milhão de vezes e nada. Quando a corda do casamento está no ponto, a corda das finanças arrebenta. Quando o Senhor afina a saúde, a fé fica abaixo do tom. Nada pior do que um cristão com o ego sustenido e o amor bemol. A vida não é mais complicada do que uma partitura de primeiro violino e, se eu afinei o meu, Deus pode nos afinar também.
Os mais raros violinos precisam de afinação, assim como os grandes nomes da Bíblia precisaram de ajuda. Quem disse que conosco será diferente? Dói quando o Músico aperta a corda? Quando busca a afinação? É só porque um dia você foi escolhido por ele como um instrumento de valor. Tão raro que ele continua afinado e não aceita trocar por outro. Hoje a música que produzimos pode ser com notas tristes, das dores e tristezas, das frustrações e mágoas que a vida (e algumas pessoas) nos trouxe. Logo logo a música será outra, e vai começar com o som de uma trombeta. Que tal estarmos afinados antes disso? Agora preciso ir, tenho que afinar meu violino.